O GANSO
Era após o jantar, enquanto lá fora anoitecia, que sentávamos nos bancos de madeira à volta da grande mesa e ficávamos ouvindo as estórias da vovó.
Naquela noite chuvosa ela contou-nos a epopeia do ganso.
"Havia lá na fazenda um ganso solitário e um pouco estranho, porém muito generoso e simpático.
Havia também uma mamãe-pata incompetente e doidivana que gostava de aventuras e distrações, sem a menor vocação maternal.
Queria continuar a mesma vida livre de "mocinha", a passear pelos matos, atrás do papai-pato.
Os patinhos corriam para alcançá-la, porém, ela não lhes dava atenção, e, no final de cada excursão dessas a ninhada voltava desfalcada de alguns filhotes.
Irritado com o comportamento de mamãe-pata, o nosso ganso tomou a decisão de adotar os infelizes inocentinhos e, usurpou, sem cerimônia, o direito de criá-los.
Vovó contando histórias |
Sempre cuidadoso levava-os a passear em lugares limpos e saudáveis defendendo-os de todos os perigos.
Á noitinha, conduzia-os para debaixo da casa da fazenda onde os deixava seguros e agasalhados. Só então, seguia para o galinheiro onde se acostumara a dormir no seu canto.
Pela manhã, bem cedo, já estava ele à testa de sua turminha, frente à portinhola da cozinha, grasnando pedindo comida. Uma vez alimentados lá ia ele todo enfatuado com sua ninhada muito cônscio de suas responsabilidades.
Mamãe-pata até que gostou.
Passado algum tempo os patinhos cresceram e tornaram-se independentes.
Eis que, certo dia, aparece no terreiro uma galinha acompanhada com sua ninhada de pintinhos; não é que nosso ganso cismou de criar aqueles pintinhos também!?...
Só que dessa vez se deu mal. A galinha era mãe dedicada e amorosa e se enfezou de tal modo contra o ganso que o venceu com suas bicadas e esporadas, botando-o para correr.
Desde esse dia ele ficou muito triste e cada vez mais solitário.
Algum tempo depois - parece até ironia, mas é a pura verdade - o nosso herói apareceu afogado no tanque de lavar café que hoje serve de piscina".
Os garotos ficaram bastante impressionados com o "caso", emocionaram-se com a má sorte do ganso. Fizeram perguntas e estranharam principalmente, o fato de um ganso morrer afogado, por quanto sabiam que os gansos, como os patos, adoram água e são exímios nadadores.
Vovó após divertir-se um pouco com as reações infantis, explicou que, não só o ganso, mas outros patos também haviam tido o mesmo fim.
O acidente se devera ao fato de estar o tanque com água apenas até ao meio de sua altura. As aves uma vez dentro, não tinham como sair e acabavam morrendo de fome e de cansaço pelo esforço para se salvarem.
Nessa época não havia ninguém na fazenda e os campeiros davam atenção apenas ao gado, não se importando com os outros animais e aves do terreiro do casarão.
Os meninos já estavam com sono e vovó mandou-nos escovar os dentes e ir ao banheiro, pois já estava na hora de dormir; pedimos mais "casos" e ela prometeu-nos outros para o dia seguinte à mesma hora.
Obedecemos e meia hora depois a casa se encontrava no mais completo silêncio.
*Assim Como o Vinho, Marina Rezende, 2004.
Ilustração do ganso retirada da Internet.
Á noitinha, conduzia-os para debaixo da casa da fazenda onde os deixava seguros e agasalhados. Só então, seguia para o galinheiro onde se acostumara a dormir no seu canto.
Pela manhã, bem cedo, já estava ele à testa de sua turminha, frente à portinhola da cozinha, grasnando pedindo comida. Uma vez alimentados lá ia ele todo enfatuado com sua ninhada muito cônscio de suas responsabilidades.
Mamãe-pata até que gostou.
Passado algum tempo os patinhos cresceram e tornaram-se independentes.
Eis que, certo dia, aparece no terreiro uma galinha acompanhada com sua ninhada de pintinhos; não é que nosso ganso cismou de criar aqueles pintinhos também!?...
Só que dessa vez se deu mal. A galinha era mãe dedicada e amorosa e se enfezou de tal modo contra o ganso que o venceu com suas bicadas e esporadas, botando-o para correr.
Desde esse dia ele ficou muito triste e cada vez mais solitário.
Algum tempo depois - parece até ironia, mas é a pura verdade - o nosso herói apareceu afogado no tanque de lavar café que hoje serve de piscina".
Os garotos ficaram bastante impressionados com o "caso", emocionaram-se com a má sorte do ganso. Fizeram perguntas e estranharam principalmente, o fato de um ganso morrer afogado, por quanto sabiam que os gansos, como os patos, adoram água e são exímios nadadores.
Vovó após divertir-se um pouco com as reações infantis, explicou que, não só o ganso, mas outros patos também haviam tido o mesmo fim.
O acidente se devera ao fato de estar o tanque com água apenas até ao meio de sua altura. As aves uma vez dentro, não tinham como sair e acabavam morrendo de fome e de cansaço pelo esforço para se salvarem.
Nessa época não havia ninguém na fazenda e os campeiros davam atenção apenas ao gado, não se importando com os outros animais e aves do terreiro do casarão.
Os meninos já estavam com sono e vovó mandou-nos escovar os dentes e ir ao banheiro, pois já estava na hora de dormir; pedimos mais "casos" e ela prometeu-nos outros para o dia seguinte à mesma hora.
Obedecemos e meia hora depois a casa se encontrava no mais completo silêncio.
*Assim Como o Vinho, Marina Rezende, 2004.
Ilustração do ganso retirada da Internet.
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