quarta-feira, 11 de abril de 2012

AMADURECENDO


Pedrinho caminhava  para a escola.  Aborrecido, cabeça baixa, a mochila pesando nas costas ...  
 As palavras de sua mãe pesavam muito mais que a mochila. "Encontre um modo de resolver isso, sem briga, argumente, use suas próprias palavras. Dê o seu jeito".
          Ela não entendia. Era mulher, não podia entender mesmo. Como poderia um menino fugir a uma luta ... assim? Ele fora desafiado.  Se não aceitasse seria chamado de "covarde". Hoje ele era respeitado na escola, ninguém tirava "chinfra" com ele.
          A turma estava esperando. Havia apostas,  ficou sabendo.
         Enquanto ia circundando o muro do colégio, os colegas iam chegando: - Aí cara ... apostei em você. Três horas da tarde lá no matagal atrás da escola.
          Os meninos haviam parado com as disputas dentro do colégio, pois os pais eram chamados e os alunos suspensos. Foram para as ruas próximas, mas sempre havia algum pai passando, que os arrastava de volta à secretaria da escola. Mais reunião e suspensão. Decidiram, então, ir para mais longe. Um matagal escondia o muro que havia atrás do colégio, e consequentemente, tudo que acontecia por lá. Parecia um bom lugar.
          - Aí, covardão ... não vai fugir não, hem???   Um garoto "mandou essa", enquanto passava por ele, que devolveu a ofensa com o gesto mais feio que conhecia.
       Estranhamente, as palavras de sua mãe incomodavam mais que a ofensa do garoto.
          - Eu não entendo, disse ela. Porque você vai brigar com um menino de quem você era amigo até uma semana atrás? Jogam bola, vão aos aniversários um do outro.
       - Mãe, fui desafiado, não posso sair fora. Aí sim, serei covardão e todo mundo vai  me zuar. 
       - Você não tem que provar nada para ninguém, você sabe o que você é, e pronto. Isso basta. Não alimente essa fama de brigão, todo mundo sabe que você é corajoso, você tem outras qualidades para mostrar. Já parou para pensar que vocês vão lutar apenas para divertir os outros? Eles instigam vocês para a luta, querem se divertir, mas se acontecer algo, são vocês dois, brigões, quem vão ficar mal. Isso não é ser amigo. Pense!
           
      As palavras da  mãe ficavam martelando na sua cabeça. Ele não queria decepcioná-la, só não sabia o que fazer. Ficava irado quando era chamado de medroso ou covarde. Todos sabiam que ele não era covarde. Já dera mil provas disso, inclusive, salvando esse mesmo menino, com quem ia lutar, dos pivetes de rua, ajudando-o a correr ... correr ... correr. Ele foi muito corajoso naquele dia, enquanto o amigo ficou chorando que nem bobão. E ele, Pedrinho, não contou nada para ninguém na escola. Não queria humilhar o colega.
           
             Pedrinho ia se aproximando do portão de entrada do colégio, o garoto, seu desafiador, estava parado com ar ameaçador esperando por ele.
         Pedrinho se aproximou, estendeu-lhe a mão: - Aí cara, então,  três horas da tarde. Se você quiser lutar, tudo bem. Mas não tenho nada contra você. Nem sei porque nós vamos fazer isso.
           - Tudo bem. Eu também não tenho nada contra você. Não precisamos lutar. 
           Pedrinho até achou que o amigo estava ali no portão tomando coragem para fazer a mesma coisa que ele.  Estender a mão e acabar com aquilo.  
            Os punhos fechados se tocaram, amigavelmente.
            E a disputa acabou ali. 

Texto: Marina Alice Rezende
Ilustrações: Internet 

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