terça-feira, 6 de dezembro de 2011

APENAS UM RETRATO

Ninguém sabia de quem se tratava. Já havíamos perguntado aos mais antigos, e todos respondiam a mesma coisa. “Quando cheguei já estava aí”.
Era um retrato antigo, com a data 1894 quase apagada, representando uma moça, aproximadamente 25 anos, porte majestoso e lindos cabelos loiros presos por fitas.
Devia ser professora, pois se encontrava na galeria de fotos de antigos mestres e diretores da Escola. Seu tipo físico e o nome “Rosé Riviére”, indicavam que era provavelmente francesa. Mas por que ninguém a conhecia? Todos os outros eram ilustres e conhecidos cidadãos, com numerosos descendentes naquele lugarejo.
A curiosidade nos levou a pesquisar.
Encontramos na escola livros de registros da época e para nossa surpresa, a tinta estava borrada justamente no assentamento dos dados de Rosé Riviéri.
Não encontramos nada em antigos jornais locais. Partimos então para outras fontes. Após algum tempo, encontramos uma pequena indicação de uma pessoa com o nome Rosé Lefrére, que teria chegado ao Brasil em 1890. Continuando nossa pesquisa nos jornais da época, encontramos referência a um Monsieur Lefrére, que estando acompanhado da esposa Rosé Lefrére, teria sido ferido por tiros e morto ao dar entrada no hospital.
Encontramos outro registro datado de dois anos após este incidente. O jornal noticiava que “O casal Rosé e Louy Riviére será recebido com grande pompa no Hotel La Lune, em Copacabana”. Um grande hotel da época. Após isso, não encontramos mais nenhuma referência à Rosé.
Em meio a essa investigação, fomos procurados por um certo Sr. Mario Rios, que nos pediu que abandonássemos a pesquisa e, pedindo sigilo - pela memória de seus tataravós - nos contou a seguinte história.
Rosé Riviére, era sua tataravó.
Casada e infeliz, fugiu com seu amante Louy Riviéri para o Brasil.
Riviére era um grande e conhecido empresário, do ramo de jóias. Por isso foi fácil serem encontrados pelo marido traído - Lefrére.
Após a morte de Lefrére, morto por Riviére em legítima defesa, viveram algum tempo tranqüilamente, até que a notícia do evento no Hotel La Lune, chamasse a atenção de seus familiares franceses. Com medo de serem acusados pela morte de Lefrére, o casal fugiu novamente, escondendo-se naquele desconhecido e longínquo lugar. Mais tarde, Rosé aceitou o convite para dar aulas de francês, na única escola ali existente. Por isso seu retrato estava na Galeria dos Mestres.
Posteriormente, abrasileiraram seus nomes para Luís e Rosa Maria Rios. Compraram uma fazenda naquelas redondezas, onde a família cresceu e viveram até o final de seus dias.
Tempos depois, em visita à fazenda do Sr. Mario Rios, encontramos um outro lindo e majestoso retrato de Rosé Riviére, enfeitando a parede da sala do imponente casarão.¨











*Autora: Marina Alice Rezende
*Na foto a atriz Keira Knightley interpretando a Duquesa Georgiana de Devonshire.







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