domingo, 27 de novembro de 2011

MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA AMOROSA

           Zefinha, mulata linda e fogosa, resolvida nas questões do amor, foi contratada por meus avós para me cuidar durante as férias. Deu-me do jeito dela as primeiras lições de amor.
        “Namoro não é coisa de criança”.
        "Pare de me olhar pelo buraco da janela”.
        Ela namorava na passagem entre a cozinha e o quintal – um lugar escondidinho, que logo descobri e ficava espreitando pelas frestas da janela. Não adiantava ela colocar um  pano escondendo os buraquinhos, que eu o tirava e depois recolocava no lugar. Dali só dava para ver os bumbuns descendo e subindo num balé sinuoso. Eu não entendia os suspiros e gemidos.
        - A gente se belisca e se morde, ela me explicava.
        - Eu não quero que ele te belisque e te machuque.
        - Mas eu belisco ele também, ela respondia rindo.
        Logo, percebi que haviam bumbuns brancos, marrons, negros e de todas as formas.
        Comecei então a desenhá-los e colocar os nomes correspondentes: Zé, Tião, Jão ...
        Foi assim que ela descobriu que eu a espiava.
        Um dia vi uma nádega magra, branca, esquálica – eu a reconheci, pois ficava escondida atrás da cortina quando o Zé da farmácia vinha dar injeção. Fiquei triste... achei que aquilo não era direito ... mas meu carinho por Eles era maior que minha decepção ... Esqueci.
        Havia um que ela não levava para o cantinho. Ficávamos conversando no portão os três, ele era muito divertido e sempre me trazia balas. Quando perguntei porque ela não o beliscava, ela me disse que ele era para casar. E me passou uma grande lição: 
        - Quando você descobrir o homem certo para casar, não o belisque, seja firme.
        - Como vou saber que ele é o homem certo?
        - Quando chegar a hora você vai saber.
        Sábia Zefinha!!!
        Uma manhã fomos com meus avós à missa de domingo. Já vinha reparando no menino da campainha – vestido de vermelho - que ajudava o padre. Pensei estar apaixonada. Não resisti quando ele passou a meu lado balançando aquela campainha num lindo toque de amor, e então, lhe sapequei um beliscão no traseiro.
        Ele me deu um empurrão tão forte que cai sentada no colo de minha avó, que zangada, me deu um vigoroso tapa na mão. Zefinha compreensiva, escondia o riso e balançava a cabeça balbuciando: 
        - Assim não ... ôôôôhh ... assim não.
        Mas foi assim que terminou a minha primeira experiência amorosa.





* Autora: Marina Alice Rezende
   Ilustração: Internet.

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