terça-feira, 29 de novembro de 2011

O CAPATAZ

   
       ”Deixo em suas mãos o meu bem mais precioso. Minha mulher e meus filhos. Cuide deles como se estivesse cuidando de sua própria vida”. 
         Com essas palavras, Evaristo montou seu cavalo e saiu galopando em direção á cidadezinha próxima, onde  negociaria a produção leiteira. Não tinha dúvida de que suas ordens seriam seguidas à  risca por seu empregado de confiança. 
           Ao contrário do marido,  Marisa detestava aquele homem, dava-lhe medo. Sério, um olhar mau, nunca o vira dar um sorriso. 
          Quando o marido precisava se ausentar da fazenda, ela pedia-lhe que deixasse uma arma em casa, e que proibisse o tal homem de sequer se aproximar da casa. Evaristo cumpria os desejos da esposa e ria de suas desconfianças. Confiava cegamente em seu capataz. “Não posso deixá-la aqui sozinha, com as criança, preciso de alguém que imponha medo e respeito”. Ele dizia.
         Mas não era só Marisa que não gostava do capataz, Tonia, a cozinheira, tinha pavor do homem. Com medo, as duas mulheres tentaram manter dentro de casa um rapaz para fazer pequenos serviços e protegê-las quando o dono da casa estivesse fora. Mas o capataz proibiu o jovem de entrar na casa, que por medo, o atendeu prontamente, não aparecendo mais.
        Assim, a tensão foi aumentando, e como se não bastasse, Evaristo ligou avisando que ficaria na cidade dois dias resolvendo problemas, e que mandaria o irmão à fazenda para fazer companhia à família.
           Embora Evaristo tenha mandado recado para o irmão, esse recado não chegou a ele.
           Tonia, Marisa e as crianças passaram a noite sozinhas.
         Pela manhã, Marisa recebeu vários telefonemas de amigos e familiares, preocupados, pois havia rumores de que a policia estava rondando as fazendas da redondeza, atrás de uma pessoa em cuja descrição o capataz se encaixava perfeitamente. Assustada, Marisa ligou para o pai pedindo ajuda. Não queria ficar sozinha. Seu pai e um irmão veio ter com ela, já ciente de que o capataz matara a mulher e a policia vinha seguindo seu rastro por todas as fazendas onde ele estivera trabalhando. 
        Evaristo ligou dizendo que já soubera das noticias, estava antecipando a volta para casa. e ficou pesaroso pela esposa ter passado a noite se sentindo só e desamparada.
             À tarde, a policia chegou. Vários homens à cavalo, revistaram tudo. Não encontraram nada. O capataz já estava longe.
            Na noite do dia seguinte, Evaristo chegou de carro. Marisa estranhou, pois Evaristo havia saído à cavalo, como sempre fazia quando saia sozinho. Deixava o carro em casa para ser usado em caso de alguma emergência com as crianças. Ele não ia antecipar a viajem? Porque só chegou agora?
           O carro estava emporcalhado, observou ela, exasperada.
        Conhecia bem o marido, não queria acreditar que ele tivesse feito o que ela estava pensando. Mas ele fez. Ela sabia. Ficou fula de raiva. Trancou-se no quarto, não queria brigar com ele na frente do pai e das crianças.
         Ele foi atrás dela e tentou abraçá-la, ela se desvencilhou dizendo que ele não se atrevesse a tocá-la. Como ele podia ter feito isso? Um assassino! Como você pôde ajudá-lo a fugir?
       Evaristo disse: - Sei que você não vai entender. Fiz o que eu achei que deveria fazer. Levei-o para longe daqui, dei-lhe dinheiro e mandei-o sumir. Conversamos muito. Não acho certo o que ele fez, mas não estou aqui para julgar ninguém. Sei que ele a assustava, mas eu tinha total confiança na lealdade dele. Respeito mútuo. Foi isso que me levou a ajudá-lo.
       Marisa continuou emburrada por algum tempo. Amava o marido. Ele tinha princípios e agia conforme esses princípios, mesmo que ela os achasse meio distorcidos às vezes.
           

          *Autora conto e desenhos: Marina Alice Rezende

2 comentários:

  1. Acho q eu pareço com Evaristo. kk

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  2. É mesmo Marcelo ... Tudo a ver.
    "Quem sai aos seus não degenera", conhece o ditado? Bjs.

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