Koulf era encantado por meninas de bochechas vermelhas. Não podia se controlar, ficava fascinado. E aí começava aquela estranha perseguição. Não conseguia se conter. Não havia como parar.
Ele não era mau, pelo contrário, tinha consciência de sua condição. Desde que começou a sentir essa estranha compulsão procurou ajuda. Conversou com sua mãe, que ficou muito assustada e quis levá-lo a um psiquiatra.
Resolveu então procurar seu pai.
Aí entendeu tudo.
Era um desejo ancestral.
A partir daí começou a passar horas na Internet ou em bibliotecas procurando conhecer tudo sobre si mesmo. Frequentar clubes de sado-masoquismo, foi a solução mais viável que encontrou.
Resolveria seu problema – sem prejudicar ninguém.
Sempre que se lançava a uma perseguição – com aquele calor louco tomando-lhe os sentidos, lembrava-se das aulas de biologia, onde o professor falava que os insetos percebem o calor através das antenas, por onde se orientam, afim de se alimentar com o sangue de suas indefesas vítimas.
As antenas de Koulf eram suas narinas, por onde ele percebia o sangue quente a correr pelas veias de suas encantadoras e irresistíveis vítimas.
As antenas de Koulf eram suas narinas, por onde ele percebia o sangue quente a correr pelas veias de suas encantadoras e irresistíveis vítimas.
Como os insetos, ele sorvia só um pouquinho. Apenas para se acalmar.
Nada que pudesse prejudicar a presa. Mas ele reconhecia que podia ser assustador – nada de dentões – isso era folclore. Para evitar constrangimentos, ele desenvolveu uma dança de encantamento e acasalamento.
Com aquela menina, agia diferente. Não queria assustá-la. Gordinha, sangue quente, sentia seu calor à distância.
Observava-a de longe, não sabendo como abordá-la.
Uma manhã, esbaforida como sempre, ela passou por ele como um vendaval, dando-lhe um encontrão. Mochilas e pastas voaram longe. Solícito, ajudou-a a recolher tudo, e se apresentou.
Ela ficou sabendo que ele se chamava Kouf – nome estranho – ele explicou: era descendente de uma família da Transilvânia, região que fica na Romênia, Europa. Pretendia cursar Direito na UERJ, por isso fazia cursinho preparatório para o vestibular do próximo ano. O que mais chamou a atenção da menina era que o rapaz, afro-descendente, vinha de uma região onde as pessoas em geral, eram claríssimas. Havia lendas a respeito. Talvez a mãe fosse brasileira, baiana ... quem sabe! Ela estava adorando a novidade.
Também se apresentou. Adriana – de família mineira, estudava no Rio de Janeiro. Estava se preparando para prestar concurso para a Prefeitura da cidade e fazer o vestibular na UERJ para o curso de Informática.
Adorava FUNK, ele ficou sabendo, dançava como ninguém – ele adorou. Tinham tudo a ver. Ela ia gostar da coreografia que ele inventara para a dança do encantamento e acasalamento.
Tímido e meio distante, ele não tinha coragem de se chegar mais.
E se ela o achasse uma aberração?
E se fugisse dele?
E se chamasse a policia?
Sem saber o que fazer, procurou seu pai novamente. Afinal sua mãe nunca soubera de nada, e continuaria sem saber. Seu pai o fez jurar que ele nunca comentaria com a mãe, sobre essa estranha sina dos dois - pai e filho.
Seria perigoso, ele disse.
Assustada, ela poderia procurar ajuda no lugar errado.
Após a conversa com seu pai saiu mais relaxado, feliz. Finalmente, deixaria a insegurança de lado. Ia procurar sua gatinha “rechonchuda” e ser muito feliz.
Seis anos mais tarde. ...
Magra e, esbaforida como sempre, vinha ela apressada. “Olha a palhaçada ... olha a palhaçada!”, resmungava, enquanto arrastava pelas mãos duas crianças choraminguentas”.
“Mãe ... Vó ... ajuda aqui. Estamos atrasados. A cerimônia já começou”. A mãe surpresa, ainda não tinha se acostumado com a nova silhueta da filha, que continuava emagrecendo. Linda, claro, mas que estranho !!!
Parecia mais branquinha... anêmica ... feliz. ...
Feliz ... sim, isso saltava-se aos olhos.
“Ei Kouf! O que você anda fazendo com minha filha?”
Ahiii ... Amor ... sogrinha ... amor ... !!! “
Sorridentes, se dirigiram ao auditório da UERJ, iluminado e enfeitado, onde os formandos receberiam seus diplomas.
*Autora: Marina Alice Rezende
Ilustrações: Internet
*Autora: Marina Alice Rezende
Ilustrações: Internet
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