domingo, 20 de novembro de 2011

EVOLUÇÃO


          Uivando para a lua, ela pulava, dava cambalhotas, urrava. A enorme mecha dourada, saindo de sua juba, brilhava intensamente. Como numa dança, pulava e se sustentava apenas nas patas traseiras. Era puro instinto. Contagiadas, as jovens fêmeas do bando se juntaram a ela numa ensurdecedora homenagem à lua. Não se davam conta, mas estavam dando mais um pequeno passo em direção à evolução humana, experimentando os primeiros indícios de emoção. Os machos atônitos rodearam o grupo e aos poucos os mais jovens aderiram aos folguedos, uivando e rodopiando.
           Os mais jovens já sofriam pequenas mutações. Ficavam em pé sobre as patas traseiras e diferentes de seus pais, seus corpos apresentavam poucos pêlos enquanto suas cabeças se enchiam deles. As jovens fêmeas gostavam de enfiar sementes coloridas ao longo dos fios de sua cabeça, enquanto os jovens machos, encantados, corriam atrás delas arrancando tudo.
           Estes folguedos começava a preocupar o velho macho, líder do bando. Um novo bando, com hábitos diferentes, estava se formando e ele não sabia como lidar com isto. Sentia sua superioridade ameaçada. E para mostrar sua força dispersava o grupo violentamente.
           Mas ele estava envelhecendo e um novo líder não tardaria a aparecer. Passou a observar o grupo e, ao contrário de seus antecessores, escolheria e treinaria seu sucessor, zelando pela integridade do bando.



          Zur, forte e destemido, exercia uma liderança natural entre os jovens e estava sempre atento à segurança de todo o bando. Assim, foi o escolhido para o treinamento, tornando-se o braço direito do líder. Gostava de nomear os componentes do bando e deu a si mesmo o nome de Zur, pois gostava de urrar emitindo este som e esmurrando o próprio peito. Zair ficou sendo o nome da fêmea que mais o encantara devido à sua enorme mecha dourada. Conforme Zair ia se tornando adulta, seus olhos iam mudando de cor – um azul, da cor do céu e o outro verde como as folhas da mata. Zur observou que o mesmo ia acontecendo com as outras fêmeas. Ele ficava extasiado com a profusão de cores - pretos, marrons, verdes e azuis - dos olhos delas. Via que elas gostavam de se enfeitar com sementes e flores, o que não era hábito entre as mais velhas do bando.
           O líder, a quem Zur passou a chamar de Tor, percebia as mudanças que estavam ocorrendo na tribo. Os sons antes desconexos, começaram a fazer sentido. As emoções passaram a fazer parte do cotidiano do bando. E Tor viu então, os olhos de Zur cheios de lágrimas, quando mortalmente ferido jazia nos braços do jovem líder.
          Ao cobrir com terra a cova onde colocou o corpo sem vida de Tor, Zur não sabia, mas estava dando outro enorme salto na escala evolutiva. O Gatilho da Evolução havia sido disparado e não tinha mais como ser contido.


Fugindo da tempestade que ameaçava desabar, o novo líder ia à frente do bando procurando um lugar seguro. Enquanto isso, batia e esfregava vigorosamente gravetos e pedregulhos, tentando repetir a faísca saída do atrito entre os galhos de árvore usados para abrir o buraco na terra, que guardava o corpo do velho líder. Sem perceber que estava preste a se deparar com uma das maiores descobertas da humanidade - O Fogo.





* Autora: Marina Alice Rezende
   Ilustrações: Internet. 




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