quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

RESPEITO ... UM DIREITO NOSSO.

          Sete horas da manhã, Luísa beijou sua filha, que saia para trabalhar. Aos dezessete anos, era seu primeiro dia, em seu primeiro emprego. Tinha acabado de passar para uma faculdade pública, e ainda não sabia se iria trabalhar de dia e estudar á noite, ou vice-versa. Estava em negociações. Negociar, é coisa que ela sabia fazer muito bem. Devia ter puxado ao pai, pois Luísa era péssima em negociações.
             Torcia por ela, esperava que a filha tivesse tanta ou mais sorte que ela, no quesito Chefe.
            Montenegro, grande figura humana, era arquiteto, na empresa de telecomunicações onde Luísa trabalhou. Foi seu chefe durante quatro anos e com ele aprendeu grandes lições de vida. Nunca mais o viu, mas até hoje, passados mais de vinte anos, ela às vezes se dava conta, que estava repetindo aqueles mesmos ensinamentos, à sua filha e a seus outros jovens familiares.
          Na época, muito jovem ainda, nem o reconhecia, com essas grandes qualidades que a maturidade hoje a fazia ver. Pelo contrário, muitas vezes não entendia seu comportamento e o achava muito esquisito. Como daquela vez em que ele lhe disse: “De tempos em tempos, volto a me apaixonar pela minha esposa”. Ela achou péssimo. Quer dizer que ele, de tempos em tempos, deixava de gostar da esposa ? Que triste!
           Foi preciso uma vivência de anos, para Luísa entender o que ele quis dizer. O amor existe sempre, mas a paixão vai e volta.
         Que lindo! Estarem casados vinte ... trinta anos ... e poder dizer: Estamos apaixonados!
         Sim, a paixão adormece. É impossível ficar no frenesi da paixão 24 horas por dia, anos a fio. Mas de vez enquando ela volta, e lá estamos outra vez, revirando os olhinhos, obsecados por nossos companheiros novamente. Isso acontece. Hoje, Luísa entende isso.
        De quando em quando, lembrava-se dele, seu ex-chefe, consciente hoje, do grande mestre que a vida colocara em seu caminho. Com filhos na mesma faixa de idade, vivia lhe dando conselhos, e ela, imatura, achava-o chato e implicante.
           
          Por duas vezes, sem que ela percebesse, seu chefe saiu da sala onde trabalhavam, furioso, para tomar providências contra alguém que a havia desrespeitado.
           
          A primeira vez foi quando, à noite, portanto fora do horário do expediente, Luísa saia do teatro com uma amiga, quando viu  um colega de trabalho. Tentou se aproximar para cumprimentá-lo, no que  foi impedida pela amiga, que lhe disse: “O cara tá doidão, nem sabe quem é você”. Luísa não acreditou e se aproximou, mas logo tiveram que sair correndo, pois o sujeito realmente estava doidão e nem sabia quem era ela, embora trabalhassem juntos, todos os dias, na mesma sala. Luísa e a amiga, fugiram e correram muito, pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, quase vazias àquela hora, com ele em seu encalço. Sorte que apareceu um táxi, deixando-as em casa. No dia seguinte, o rapaz foi posto à disposição do Departamento e nunca mais o viram.
         
           Numa outra vez, ela saía da Empresa para almoçar em casa, que ficava perto, quando dois funcionários vinham saindo também e, um deles começou a falar barbaridades pornográficas para Luísa. O companheiro mandou-o parar com aquilo, e se afastou dele. Luísa chegou em casa furiosa, reclamando com a mãe: “Porque aquele sujeito se acha no direito de me desrespeitar?”. Voltando ao trabalho, muito aborrecida, contou o fato aos colegas. Tão enraivecida ela estava, que não percebeu a saída do chefe, indignado.
          Nos dias posteriores, ela percebeu que quando chegava ao trabalho, e entrava no pátio que dava acesso à Estação, o pátio ficava vazio, os funcionários sumiam, e aqueles que não conseguiam sair antes que ela entrasse, viravam-lhe as costas e olhavam para o chão. Ninguém a encarava, nem aqueles acostumados a cumprimentá-la normalmente.
          - Esquisito ... desconcertante! Luísa contava para sua mãe. Sabe, aqueles jogadores de futebol que levam bronca do juiz e ficam olhando para o chão? Igualzinho.
          Naquela Unidade onde Luísa trabalhava, mais de noventa por cento dos funcionários, eram do sexo masculino, e aquela foi a única vez em que foi desrespeitada nos quatro anos que ali trabalhou.
          A filha estranhava quando ela contava essas coisas: A mãe correndo de malucos, e ainda precisando de ajuda do chefe para tirá-la de situações embaraçosas. Era inconcebível !
        Luísa não entendia porque alguns homens, ralé mesmo, se achavam no direito de desrespeitá-la com palavras e gestos obscenos.
          - Acredito, disse à filha, que hoje em dia, os homens estejam mais respeitosos, se acostumaram com mulheres trabalhando e estudando, fora de casa, nos horários mais diversos.
         
- Tenho certeza, continuou, que você não vai passar pelos vexames que eu passei. Os tempos são outros, e já existem leis contra o assédio sexual.
          
       Finalmente, sua filha conseguira trocar o horário do trabalho para a tarde. Estava tão feliz!
          
                 E ... Coincidência!
            A jovem foi abordada por um senhor, cuja firma presta serviços para a empresa em que ela trabalha, este senhor, observando o crachá dela, perguntou se ela era parente de Luísa, pois além da impressionante semelhança física, ele também reconheceu o sobrenome. Respondendo afirmativamente, ela recebeu um forte abraço do ex-chefe de sua mãe, que apesar da idade, ainda continuava na ativa.
          Luísa sugeriu à filha, que o convidasse para seu aniversário de dezoito anos, que seria comemorado no próximo sábado. A jovem gostou da ideia e assim fez.
          Realmente,  Montenegro,  um homem honrado,  deixou ótimas recordações em sua passagem pela vida de Luísa.


*Autora: Marina Alice Rezende                   

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