quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SAUDADE

Hernane e Marina Rezende
SORRIA

No fundo do meu coração
Há um profundo negror
De tudo que a vida doeu.
Não vou lá.
Prefiro ficar à tona
sob a luz das estrelas
Que meu sorriso acendeu.
Se há noite em teu coração,
Sorria!
Assim vais acender
Estrelas na escuridão.




APELO A DEUS 

A principio foi uma luta a dois.
Mas tudo mudou sete anos depois:
No ardor da refrega inane ele tombou.
O posto assumi. E só, combati.
E após anos dessa luta inglória
que são séculos para mim,
Eis-me, Senhor, aqui,
A teus pés,
Quase a sucumbir!

Venha de lá teu poderoso auxílio,
E te apiedes, ao menos Tu, meu Deus,
de tua filha que cansada está
de palmo a palmo o dia conquistar.
Não tanto por mim,
mas, por meus filhos, sim,
que são inocentes
e sofrer não devem,
destino triste assim.


SAUDADE

Sabe-o melhor quem padece
a dor de uma saudade.
Tudo no mundo obedece
Lei de relatividade.

Prá quem tem no coração
Uma ausência, uma saudade,
uma semana é um milênio,
Um mês, uma eternidade!

Mas prá sanar tal tormento
Dos amados filhos amantes
Une-os Deus em pensamento
Mesmo com os corpos distantes.











Marina Rezende
Assim Como o Vinho, 2004.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

VIDA QUE PASSA

A vida, uma série de emoções e acontecimentos que passam em nosso dia a dia, com incentivos que nos levam às realizações, às alegrias, às esperanças de momentos de felicidade ou nos levam ao derrotismo, que é tudo aquilo que nos aniquila, nos põe de ânimo baixo, ao desânimo, à desesperança, ao desamor. O nosso dia a dia é um estado de espírito. Às vezes, nos leva a não esperar nada, e nem querer nada, ao aleatório.

A vida são momentos que passamos, ora com vigor, ora com distonia. Ora nos traz alegrias e sorrimos, ora nos traz tristezas e choramos ou ficamos abatidos física ou moralmente.

A toda essas situações em que nos encontramos, chamamos vida, que é este estado funcional em que a pessoa se manifesta em ações, atitudes, pensamentos, sentimentos.

Ás vezes, dizemos assim: “a vida sorri para você”, e é quando tudo está correndo bem e você está contente, feliz. Tudo dá certo, é como o rio correndo para o mar, mansamente ao som dos “chuás, chuás”.

Às vezes essa mansidão é quebrada por inesperados imprevistos que transformam a “vida feliz” em “vida madrasta”. Coitada da madrasta que leva essa “má fama”.

Mas, a vida então, se torna negativa, arrastante. É ai que ela traz a inquietude, a depressão, o desalento, é o rio das correntezas aceleradas seguindo para as grandes quedas, ou mesmo até ao incontrolável.

O dia a dia é a vida. É difícil viver. Só com muita coragem para enfrentar estes obstáculos e desafios.

Busquemos coragem, arejando nossa mente, para seguir esta caminhada e vencer todo o mal que nos segura e arrasta para a imobilidade, para o mal querer, para tudo o que se torna obscuro e inatingível.

Não gosto da infelicidade, do contundente, e como a vida é o dia após dia, nada perdura e assim, como amanhã será um novo dia, também as emoções serão outras certamente.

Esperemos a noite passar, para que após a escuridão vejamos a grande aurora chegar, com uma nova luz, para uma nova vida viver.

* Texto: Marly Braga, 18/01/2012.
   

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

RESPEITO ... UM DIREITO NOSSO.

          Sete horas da manhã, Luísa beijou sua filha, que saia para trabalhar. Aos dezessete anos, era seu primeiro dia, em seu primeiro emprego. Tinha acabado de passar para uma faculdade pública, e ainda não sabia se iria trabalhar de dia e estudar á noite, ou vice-versa. Estava em negociações. Negociar, é coisa que ela sabia fazer muito bem. Devia ter puxado ao pai, pois Luísa era péssima em negociações.
             Torcia por ela, esperava que a filha tivesse tanta ou mais sorte que ela, no quesito Chefe.
            Montenegro, grande figura humana, era arquiteto, na empresa de telecomunicações onde Luísa trabalhou. Foi seu chefe durante quatro anos e com ele aprendeu grandes lições de vida. Nunca mais o viu, mas até hoje, passados mais de vinte anos, ela às vezes se dava conta, que estava repetindo aqueles mesmos ensinamentos, à sua filha e a seus outros jovens familiares.
          Na época, muito jovem ainda, nem o reconhecia, com essas grandes qualidades que a maturidade hoje a fazia ver. Pelo contrário, muitas vezes não entendia seu comportamento e o achava muito esquisito. Como daquela vez em que ele lhe disse: “De tempos em tempos, volto a me apaixonar pela minha esposa”. Ela achou péssimo. Quer dizer que ele, de tempos em tempos, deixava de gostar da esposa ? Que triste!
           Foi preciso uma vivência de anos, para Luísa entender o que ele quis dizer. O amor existe sempre, mas a paixão vai e volta.
         Que lindo! Estarem casados vinte ... trinta anos ... e poder dizer: Estamos apaixonados!
         Sim, a paixão adormece. É impossível ficar no frenesi da paixão 24 horas por dia, anos a fio. Mas de vez enquando ela volta, e lá estamos outra vez, revirando os olhinhos, obsecados por nossos companheiros novamente. Isso acontece. Hoje, Luísa entende isso.
        De quando em quando, lembrava-se dele, seu ex-chefe, consciente hoje, do grande mestre que a vida colocara em seu caminho. Com filhos na mesma faixa de idade, vivia lhe dando conselhos, e ela, imatura, achava-o chato e implicante.
           
          Por duas vezes, sem que ela percebesse, seu chefe saiu da sala onde trabalhavam, furioso, para tomar providências contra alguém que a havia desrespeitado.
           
          A primeira vez foi quando, à noite, portanto fora do horário do expediente, Luísa saia do teatro com uma amiga, quando viu  um colega de trabalho. Tentou se aproximar para cumprimentá-lo, no que  foi impedida pela amiga, que lhe disse: “O cara tá doidão, nem sabe quem é você”. Luísa não acreditou e se aproximou, mas logo tiveram que sair correndo, pois o sujeito realmente estava doidão e nem sabia quem era ela, embora trabalhassem juntos, todos os dias, na mesma sala. Luísa e a amiga, fugiram e correram muito, pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, quase vazias àquela hora, com ele em seu encalço. Sorte que apareceu um táxi, deixando-as em casa. No dia seguinte, o rapaz foi posto à disposição do Departamento e nunca mais o viram.
         
           Numa outra vez, ela saía da Empresa para almoçar em casa, que ficava perto, quando dois funcionários vinham saindo também e, um deles começou a falar barbaridades pornográficas para Luísa. O companheiro mandou-o parar com aquilo, e se afastou dele. Luísa chegou em casa furiosa, reclamando com a mãe: “Porque aquele sujeito se acha no direito de me desrespeitar?”. Voltando ao trabalho, muito aborrecida, contou o fato aos colegas. Tão enraivecida ela estava, que não percebeu a saída do chefe, indignado.
          Nos dias posteriores, ela percebeu que quando chegava ao trabalho, e entrava no pátio que dava acesso à Estação, o pátio ficava vazio, os funcionários sumiam, e aqueles que não conseguiam sair antes que ela entrasse, viravam-lhe as costas e olhavam para o chão. Ninguém a encarava, nem aqueles acostumados a cumprimentá-la normalmente.
          - Esquisito ... desconcertante! Luísa contava para sua mãe. Sabe, aqueles jogadores de futebol que levam bronca do juiz e ficam olhando para o chão? Igualzinho.
          Naquela Unidade onde Luísa trabalhava, mais de noventa por cento dos funcionários, eram do sexo masculino, e aquela foi a única vez em que foi desrespeitada nos quatro anos que ali trabalhou.
          A filha estranhava quando ela contava essas coisas: A mãe correndo de malucos, e ainda precisando de ajuda do chefe para tirá-la de situações embaraçosas. Era inconcebível !
        Luísa não entendia porque alguns homens, ralé mesmo, se achavam no direito de desrespeitá-la com palavras e gestos obscenos.
          - Acredito, disse à filha, que hoje em dia, os homens estejam mais respeitosos, se acostumaram com mulheres trabalhando e estudando, fora de casa, nos horários mais diversos.
         
- Tenho certeza, continuou, que você não vai passar pelos vexames que eu passei. Os tempos são outros, e já existem leis contra o assédio sexual.
          
       Finalmente, sua filha conseguira trocar o horário do trabalho para a tarde. Estava tão feliz!
          
                 E ... Coincidência!
            A jovem foi abordada por um senhor, cuja firma presta serviços para a empresa em que ela trabalha, este senhor, observando o crachá dela, perguntou se ela era parente de Luísa, pois além da impressionante semelhança física, ele também reconheceu o sobrenome. Respondendo afirmativamente, ela recebeu um forte abraço do ex-chefe de sua mãe, que apesar da idade, ainda continuava na ativa.
          Luísa sugeriu à filha, que o convidasse para seu aniversário de dezoito anos, que seria comemorado no próximo sábado. A jovem gostou da ideia e assim fez.
          Realmente,  Montenegro,  um homem honrado,  deixou ótimas recordações em sua passagem pela vida de Luísa.


*Autora: Marina Alice Rezende                   

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

BUCÓLICAS



BUCÓLICAS I

Só quem pelos campos andou
e nos campos se criou,
e as plantas viu crescer,
vai o poeta entender.
Diz o poeta:
Escute a fala do silêncio!...
Ouça a semente germinar!...
Aspire o perfume do sereno,
nos campos, em noite de luar.
Esse misterioso perfume
do sereno ao luar,
é o sereno com ciúme
da lua, por se mostrar. 


BUCÓLICAS II

Feliz de quem pode,
sentindo
o poema da natureza,
ver graça num passarinho
saltitando
ligeiro de galho em galho.
Sentir poesia nas águas
marulhando
sob o denso do arvoredo.
Ver arte no ramo verde
debruçando-se
sobre as águas do riacho.
Sentir o odor do sereno
perfumando
as noites de lua cheia...
Ouvir o silêncio profundo
falando
dos mistérios da solidão.
Fitar o céu estrelado
pensando,
o olhar perdido à distância,
na grandeza infinita de Deus
criando
a beleza das estrelas nos céus.











Marina Rezende
Assim Como o Vinho, 2004.  

sábado, 14 de janeiro de 2012

O PARAQUEDISTA

Crédito imagem paraquedista
Licença:CC Attribution 2.0  Autor: aokettun



Ângelo recostou-se. Não pretendia dormir, embora estivesse muito cansado. Mestre de salto de paraquedismo, acabara de chegar de um treinamento muito cansativo.
Lya, sua esposa, estava entrando em trabalho de parto. Ângelo queria ficar ao seu lado dando apoio moral. Mas dormiu.
Percebeu que estava sonhando. 
        Sim. Sabia que era um sonho. 
      Ele se viu levantando da cama indo até o aparelho de TV, ligou-o. Imediatamente sua imagem apareceu na tela e sua voz soou no aparelho:
Meu nome é Ângelo, voar é minha paixão. Treino salto em queda livre de pára-quedas . E agora estou prestes a realizar mais um salto.
Se existe algum motivo real para virmos a este mundo o meu é aperfeiçoar os mais variados modos de vôo possível a um ser humano.
Chegando à porta do avião de onde farei o salto, recordo-me,  já passei por isto antes.
- Que emoção!!! Como é que eu não me lembrei disso antes? Está acontecendo de novo! O pára-quedas não abriu, estou rolando ... rolando... o vento me joga para todos os lados. Não adianta lutar ... deixo o vento me levar ... 

Mais calmo agora, abro os olhos devagar e lá estou eu de novo. Atravessando a barreira entre as dimensões, entro num caminho paralelo e chego ao Campo de Treinamento de onde se pode voar em qualquer direção no tempo”.

- Outra vez! ... O treinador vinha bravo em minha direção. O que foi desta vez?
- Foi a emoção, respondi envergonhado.
A consciência me voltava aos poucos. Aquela era minha missão. Voar entre as dimensões, aperfeiçoando técnicas de vôo e protegendo aos que como eu, amavam voar.
Haviam coisas a aprender – conhecer meus limites, por exemplo, para aproveitar melhor meu potencial. Sou um ser jovem, afoito, mas estou aprendendo.
Como treinamento e até como uma chamada à ordem, pois meu treinador, impaciente, achava que eu cometia erros primários, voltei para uma espécie de curso onde, como num filme, toda minha trajetória, desde o inicio dos tempos, me foi reapresentada.
Vi-me como uma espécie de mini-bolha explodindo em muitas outras bolhinhas. Alegremente, saltávamos cada vez mais alto de um lado para outro. Percebi o resquício de consciência aparecendo. A cada nova percepção, viajava vertiginosamente pelo tempo. Percebia-me rolando, pulando, correndo e voando ... voando ...
Voava com o vento ... voava contra o vento ... Voava... voava...


Aos poucos, aborrecido, percebi um vento mais forte atrapalhando meu vôo. Inimigos, começamos a medir força. Um tempo difícil de aprendizado e crescimento.
        Milênios se passaram até que eu o reconhecesse um amigo. 
O meu treinador.
Com ele aprendi tudo que sei sobre a arte de voar.
Foi em sua companhia que treinando nosso balé aéreo aprendi o looping, o tonneau e o snap roll, entre outras manobras aéreas.


– Ahh !!! O prazer de voar ... voar ... girar ... girar ... que fantástico!.
Me diverti em inúmeras tentativas de imitar o vôo dos pássaros, com os quais aprendi a me comunicar. 
Amante das máquinas voadoras que ás vezes explodiam em pleno ar, partia cedo demais. Aos poucos fui percebendo que podia desviar os pássaros das rotas dos aviões evitando acidentes aéreos. Mas era aos amantes dos esportes aéreos que dedicava minha paixão incondicional. Vibrava e sofria por eles. Amortecia-lhes a queda desviando-os de pedras e objetos pontiagudos, fazendo-os cair sobre árvores e mares. Ficava exausto, mas feliz.
- Ah! Vários dele, velhos conhecidos, pois já caminhamos juntos nos vários desdobramentos do tempo.
Volto para a sala do curso, onde estão sendo discutido os erros cometidos nos últimos acidentes.
Emocionado, descobri entre os colegas, Lya, minha outra grande paixão.
Juntos, desde o início, na explosão das primeiras bolhinhas, temos caminhado, ou melhor, voado juntos, desde sempre, sob as bençãos de nosso treinador. Que tem nos mantidos unidos através das dimensões. Nosso encontro é sempre uma festa. O tempo nunca foi uma barreira para nós, pois aprendemos a quebrá-la, através do desenvolvimento de várias técnicas de comunicação, mesmo estando em dimensões diferentes.
Lya fizera parte de minha última equipe de salto. No dia do acidente, Lya não saltou, e me cedeu seu lugar. Àquela tarde ela faria uma palestra sobre segurança nos saltos e queria prepará-la. Palestra esta que nunca aconteceu. O trajeto terrestre de Lya foi interrompido por bandidos, que além do equipamento de salto que levava,   roubaram também sua energia vital, tornando rápida sua passagem por aquela dimensão.


    - Desta vez, prometeu o treinador, vou cuidar pessoalmente dos dois, aliás dos três. Uma grande missão espera por vocês. Uma brisa morna, amarela e brincalhona envolveu-nos.
  Percebemos que iríamos voltar e levaríamos junto um aprendiz. Nossa responsabilidade dali para frente.


      Ângelo acordou assustado e sobressaltado, sentindo as unhas de Lya arranhando seu rosto. “Vamos Anjo ... vamos. Está na hora... a bolsa estourou .. já está na hora do neném nascer”. Atordoado ele correu, vestiu a farda, pegou a maleta com as coisas de Lya e do neném.


     O Piloto Flávio, seu colega de aviação, os esperava no carro, pois iriam voar à tarde. Mas antes deixariam Lya na maternidade.


     Antes de sair, Ângelo apagou o televisor, onde havia a sua imagem congelada, bem como a de Lya e um vulto amarelo de um bebê. Abraçando a todos, como um pai, o treinador sorria. 


         “Estranho, pensou Ângelo, o treinador é um “clone” do piloto Flávio. E a televisão ligada? Mas aquilo não foi um sonho"?  Pensaria nisso mais tarde. Agora Lya esperava por ele aflita.



* Autora: Marina Alice Rezende
    Ilustrações: Internet 



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

ALÉM PARAÍBA 2012


CRÔNICA DE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA


Plínio Fajardo Alvim
A tragédia de Além Paraíba-MG, ocorrida na madrugada do dia 9 de janeiro de 2012, foi muito parecida com a que ocorreu em Leopoldina-MG, no início da década de 1980, quando o estreito Córrego do Feijão Cru atingiu, em apenas meia hora, proporções gigantescas, matando sete pessoas e deixando um rastro de destruição em grande parte da   cidade.
Em Além Paraíba, o pequeno Rio Limoeiro, afluente do grande Rio Paraíba, recebeu enorme volume de água decorrente de fortes chuvas (‘tromba d’água’) em suas cabeceiras. O Limoeiro, já muito assoreado em seu trajeto urbano, atravessa vários bairros da cidade, com trechos ora apertados entre morros, ora com declividade bem acentuada, formando pequenas cachoeiras e estrangulado por canalizações, pontes e incontáveis construções às suas margens; o que potencializou a violência destrutiva da correnteza.
Em pouquíssimos minutos, ao longo de todo seu percurso urbano, o Limoeiro subiu muitos metros, destruindo ou levando o que encontrava pela frente, inclusive em áreas de baixada, como na Vila Laroca, já próximo de seu encontro com o Paraíba, inundando as antigas instalações das ‘Oficinas Ferroviárias de Porto Novo’, a ‘Quadra da Rede’, a SAPE (antigo SENAI) e toda a vizinhança, num raio de mais de 400 metros. Um cenário dantesco, jamais visto, ou, sequer, imaginado pelos moradores da cidade. Tínhamos a nítida impressão de que o Limoeiro queria - à força - retomar o seu território, bem ali, naquele mesmo lugar onde, outrora, antes de ser desviado e maltratado, ele se entregava ao Paraíba. Este, apesar de já estar bastante cheio - embarreirando o seu afluente -, ainda não chegara a sair de seu leito natural.
Além das irreparáveis perdas humanas (fala-se em quatro vítimas fatais) e materiais (centenas de casas residenciais e comerciais inundadas ou destruídas, dezenas de carros arrastados ou submersos, equipamentos urbanos e vias danificadas), ocorreram ainda vários desmoronamentos, um dos quais interditou o acesso ao Hospital São Salvador, o único da cidade. A chuva persistente ainda ameaça encostas e prédios fragilizados pelo desastre.
Telefones, internet e energia elétrica foram sendo regularizados ao longo do mesmo dia. O fornecimento de água potável foi - e ainda está - interrompido. No início dessa noite e na manhã do dia 10 a Prefeitura solicitou (via carro de som) que os moradores dos bairros atingidos pelo Limoeiro saíssem de suas casas, em razão de possível rompimento de uma barragem (açude) existente à montante do rio, na zona rural, periférica da urbana, na localidade denominada ‘Torrentes’.
TRAGÉDIA PREVISTA E ANUNCIADA – Há exatamente um ano, em janeiro de 2011, em debate no Programa Roda Viva, então apresentado pelo radialista José Erbiste ‘Macarrão’, na Rádio Cultura de Porto Novo, eu lembrei que, apesar das catástrofes ocorridas na vizinha região serrana fluminense (em 11 e 12 daquele mês) e na própria cidade de Além Paraíba (no dia 15), e por elas motivados, vivíamos um momento propício para a elaboração de projetos de contenção de encostas, prevenção de enchentes, construção de moradias, transferência de populações das áreas de risco, etc.; em razão da existência de recursos federais para tais destinos e face à própria sensibilização do Governo Federal. E sugeri que nossos governantes elaborassem os projetos e os encaminhassem à Brasília e pedi que o programa fosse gravado.
Em meados de 2011, foi realizado um detalhado e bem fundamentado diagnóstico, elaborado pela equipe coordenada pela Dra. Denise Vögel, dirigente da Ambiental Consult, empresa de consultoria contratada por Furnas Centrais Elétricas, com vistas à ‘Revisão do Plano Diretor Municipal’ – de cujas reuniões e audiências públicas participei, como integrante, convidado, do grupo de representantes da sociedade civil organizada – ONGs Grupo Brasil Verde e Instituto Culturar. O projeto destacou o desordenamento da ocupação antrópica em vários pontos do município, enfatizando a enorme vulnerabilidade no Limoeiro e do seu entorno; alertando, inclusive, quanto aos riscos a que estão sujeitas as demais áreas, suscetíveis a erosões; e apresentou uma série de propostas para reduzir e/ou evitar ocorrências como estas.
Agora, precisamos arregaçar as mangas, reconstruir o que se perdeu e torcer para que a Câmara aprove as mudanças sugeridas e para que a Prefeitura tome a iniciativa de elaborar e implementar projetos, factíveis, de desocupação humana e recuperação ambiental dos locais afetados. Vidas serão preservadas e danos materiais serão evitados.
Espero que, no próximo verão, eu/nós não precise/mos ‘copiar’ e ‘colar’ este mesmo texto - só trocando as datas - para comentar uma possível reprise desta triste notícia.



Plinio Fajardo Alvim  
Administrador, Ambientalista, Ferroviarista, Pesquisador da História Regional.

domingo, 8 de janeiro de 2012

MOMENTOS MÁGICOS


A par dos momentos trágicos
Há sempre momentos mágicos
Permeando a natureza.

Nas horas de seus folguedos
Ela inventa seus brinquedos
Tal um bando de crianças.

A brisa, o sol e as ramagens,
Formam, então, mil imagens,
Que deslizam pelo chão.

Dezenas de bolinhas douradas
Rolam aos meus pés e se vão,
Brincam de esconde-esconde,
Fogem não sei pra onde,
E voltam a aparecer.
Sobem nos meus joelhos
Trêfegas e ligeiras
Tornam a fugir de roldão
Retornam às cambulhadas
Voltam a desaparecer.

Florinhas silvestres
Com hastes tão frágeis
Fagueiras balançam
Ao sopro do vento
E aumenta a magia
Daquele momento.











Marina Rezende,
Assim Como o Vinho, 2004.


 * Ilustração floresta tirada da Internet.

GALERIA - MEUS DESENHOS




Treinando a cor I




Treinando a cor II 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

MARINA REZENDE - POESIAS



COMO O VINHO
Eu também sou “como o vinho”
Sou também “coisa de Minas”
Quanto mais o tempo passa
Melhor canto minha terra.
Também sou “canto do cisne”
Que só canta o fim da vida
Deixando pairar no ar
Seu grito de despedida.

NOSSA BÚSSOLA
Quando nos deparamos
Com uma situação difícil
Numa encruzilhada da vida
Tomemos da nossa bússola
Que é a palavra DEVER
Ela nos indicará
O rumo certo a tomar
Foi Deus quem a nos deu
Só nos cabe obedecer.

ARQUIVO
Lá no fundo do meu peito
Há um compartimento
Que eu chamo de “arquivo”.
Lá eu deixo bem guardados
Minhas dores, meus pesares,
E toda infelicidade.
Mas o tempo vai passando
E gota a gota destilando,
Vai prá sempre
Encharcando,
O meu lenço de saudade.











Marina Rezende,
Assim Como O Vinho,  2004.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

LEONARDO BOFF - A FALTA QUE O RESPEITO FAZ

Leonardo Boff
     
   A cultura moderna, desde os seus albores no século XVI, está assentada sobre uma brutal falta de respeito. Primeiro, para com a natureza, tratada como um torturador trata a sua vítima com o propósito de arrancar-lhe todos os segredos (Bacon). Depois, para com as populações originárias da América Latina. Em sua “Brevíssima Relação da Destruição das Indias”(1562) conta Bartolomé de las Casas, como testemunho ocular, que os espanhóis “em apenas 48 anos ocuparam uma extensão maior que o comprimento e a largura de toda a Europa, e uma parte da Ásia, roubando e usurpando tudo com crueldade, injustiça e tirania, havendo sido mortas e destruídas vinte milhões de almas de um país que tínhamos visto cheio de gente e de gente tão humana”(Décima Réplica). Em seguida, escravizou milhões de africanos trazidos para as Américas e negociados como “peças” no mercado e consumidos como carvão na produção.
Seria longa a ladainha dos desrespeitos de nossa cultura, culminando nos campos de extermínio nazista de milhões de judeus, de ciganos e de outros considerados inferiores.
Sabemos que uma sociedade só se constrói e dá um salto para relações minimamente humanas quando instaura o respeito de uns para com os outros. O respeito, como o mostrou bem Winnicott, nasce no seio da família, especialmente da figura do pai, responsável pela passagem do mundo do eu para o mundo dos outros que emergem como o primeiro limite a ser respeitado. Um dos critérios de uma cultura é o grau de respeito e de autolimitação que seus membros se impõem e observam. Surge, então, a justa medida, sinônimo de justiça. Rompidos os limites, vigora o desrespeito e a imposição sobre os demais. Respeito supõe reconhecer o outro como outro e seu valor intrínseco seja pessoas ou qualquer outro ser.
Dentre as muitas crises atuais, a falta generalizada de respeito é seguramente uma das mais graves. O desrespeito campeia em todas as instâncias da vida individual, familiar, social e internacional. Por esta razão, o pensador búlgaro-francês Tzvetan Todorov em seu recente livro “O medo dos bárbaros”(Vozes 2010) adverte que se não superarmos o medo e o ressentimento e não assumirmos a responsabilidade coletiva e o respeito universal não teremos como proteger nosso frágil planeta e a vida na Terra já ameaçada.
O tema do respeito nos remete a Albert Schweitzer (1875-1965), prêmio Nobel da Paz de 1952. Da Alsácia, era um dos mais eminentes teólogos de seu tempo. Seu livro “A história da pesquisa sobre a vida de Jesus” é um clássico por mostrar que não se pode escrever cientificamente uma biografia de Jesus. Os evangelhos contém história mas não são livros históricos. São teologias que usam fatos históricos e narrativas com o objetivo de mostrar a significação de Jesus para a salvação do mundo. Por isso, sabemos pouco do real Jesus de Nazaré. Schweitzer comprendeu: histórico mesmo é o Sermão da Montanha e importa vivê-lo. Abandonou a cátedra de teologia, deixou de dar concertos de Bach (era um de seus melhores intérpretes) e se inscreveu na faculdade de medicina. Formado, foi a Lambarene no Gabão, na Africa, para fundar um hospital e servir a hansenianos. E ai trabalhou, dentro das maiores limitações, por todo o resto de sua vida.
Confessa explicitamente:”o que precisamos não é enviar para lá missionários que queiram converter os africanos mas pessoas que se disponham a fazer para os pobres o que deve ser feito, caso o Sermão da Montanha e as palavras de Jesus possuam algum sentido. O que importa mesmo é, tornar-se um simples ser humano que, no espírito de Jesus, faz alguma coisa, por pequena que seja”.
No meio de seus afazares de médico, encontrou tempo para escrever. Seu principal livro é:”Respeito diante da vida” que ele colocou como o eixo articulador de toda ética. “O bem”, diz ele, “consiste em respeitar, conservar e elevar a vida até o seu máximo valor; o mal, em desrespeitar, destruir e impedir a vida de se desenvolver”. E conclui:”quando o ser humano aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante; a grande tragédia da vida é o que morre dentro do homem enquanto ele vive”.
Como é urgente ouvir e viver esta mensagem nos dias sombrios que a humanidade está atravessando

Leonardo Boff é autor de “Convivência, Respeito, Tolerância”,Vozes 2006

*Publicado no Jornal Folha do Povo em 30082011